Ser perfeccionista: Uma qualidade ou uma fragilidade?

A esta questão muitos clientes respondem, sem hesitar, que ser perfeccionista se trata de um aspecto positivo das suas personalidades. Outros, já consideram e têm a noção que esse seu traço é uma forte limitação.

A verdade é que as pessoas perfeccionistas sofrem, e, com frequência, não se dão conta que esse pode ser o principal factor do seu sofrimento.

Hollender, Investigador pioneiro no estudo do perfeccionismo, define-o como “O hábito de exigir a si próprio e aos outros uma elevada qualidade de desempenho, maior do que o requerido pela situação”.

Há um constante policiamento interno e externo que leva a um enorme cansaço e constantes frustrações porque na realidade não existe perfeição em nada NEM EM NINGUÉM!

É necessário resignificar com o cliente esse seu traço e o impacto negativo que o mesmo cria na sua vida, em todas as dimensões.

No início, quando é confrontada, a pessoas que se define (com orgulho) como perfeccionista, mostra uma enorme resistência em se desapegar desta característica que afinal percebe ser limitadora e não potenciadora da sua vida.

Mesmo aqueles que já se aperceberam que ser perfeccionista é bastante limitador, recusam inicialmente as estratégias de mudança porque este padrão profundo é difícil de alterar e implica um esforço grande.

Quando falamos de perfeccionismo falamos de uma série de questões relacionadas e que servem de despiste para esta questão que é muito mais “grave” do que parece.

O Medo intenso de errar

Hollender fundamentou que o indivíduo perfeccionista está “constantemente atento ao que está errado e raramente a observar o que está certo”. Os perfeccionistas comparam frequentemente erros com falhas. Ao orientar a vida, muitas vezes, em função do evitamento de erros, eles não têm a oportunidade de aprender e crescer. Outro aspecto é que o medo de errar é tão grande que para não ser surpreendido, a pessoa perfeccionista faz com que isso aconteça. É uma forma irracional de terminar com a ansiedade que tanto a faz sofrer.

O Medo da desaprovação

Se deixarem os outros verem as suas falhas, os perfeccionistas temem não serem aceites. Tentar ser perfeito é uma maneira de tentar proteger-se de críticas, da rejeição e da desaprovação que tanto temem.

As to do list intermináveis

A lista de tarefas diárias, semanais ou mensais que se propõem fazer num “tempo impossível” que os próprios exigem a si mesmos, são utopias que produzem um enorme desgaste e uma frustração contínua.

O verbo DEVER

Enorme ênfase nos “deveria”: Deveria trabalhar mais, deveria ser melhor pessoa, etc. A vida dos perfeccionistas são estruturadas por uma lista infinita de “deverias”, existem regras rígidas de como as suas vidas devem ser conduzidas.

O Pensamento polarizado

Do 8 ao 80. Não existe um meio termo ao analisar uma tarefa: Ou foi tudo perfeito ou completamente horrível. Pensam sobre pessoas, situações e acontecimentos de forma extremada, em termos de bom ou mau: “Ou sou perfeito ou sou um fracasso”, “Se não sou deslumbrante, sou horrível”, não há meio termo. O problema é que, por norma, colocam-se a si mesmos no extremo negativo dessa polarização. Se não é perfeito, então é porque não vale nada; se não consegue o emprego que queria, o seu futuro acabou; se a sua relação não funciona, então nunca há de encontrar amor verdadeiro.

A Procrastinação

No cumprimento de Prazos. Uma das características mais comuns dos perfeccionistas é a mania de procrastinar. A exigência de fazerem o melhor trabalho faz com que vão adiado sempre a entrega do mesmo, por exemplo.

O Exigir o impossível

Atormentar os outros com seu alto nível de exigência. O perfeccionista tende a sufocar os demais com exigências e pedidos que só fazem sentido para ele mesmo. Ter conflitos com o parceiro por coisas mínimas do dia a dia. O perfeccionista quer que as coisas sejam organizadas sempre à sua maneira. O que exige de si mesmo, acaba exigindo do outro e a vida a dois complica-se. Críticas em excesso prejudicam qualquer relação. Tenta moldar os filhos de acordo com seus padrões rígidos. Pais perfeccionistas tendem a ser duros ou rígidos com os seus filhos, embora não o façam por mal, acreditando que as críticas são sinal de amor e de cuidados essenciais. Mas isso, frequentemente, leva o filho a distanciar-se,

com medo dos erros e da falta de aprovação. Base perfeita para uma nova geração de perfeccionistas.

A Ausência de (auto)reconhecimento

Tendência a não elogiar nem reconhecer o valor alheio. Se elogiam os outros, reconhecem que existem outros modelos de pensamento. Isso coloca em dúvida a sua busca pela perfeição porque, intimamente, só pode admitir a existência de um único modelo: o seu.

O Não se permitir relaxar

Viver doente e nunca relaxar. Uma rotina dominada por normas, organização e detalhes pode causar uma ansiedade profunda e intensa. Como os perfeccionistas não aceitam o fracasso evitam correr qualquer tipo de risco, mesmo aqueles que são necessários, e, assim, reforçam os seus medos e reduzem as chances de sucesso. Estão sempre sob pressão. A falta de relaxamento torna-os mais rígidos e desta forma, afastam-se das pessoas.

A Falta de criatividade

Deixar a criatividade de lado. Muitos perfeccionistas pecam por falta de ideias e de originalidade pois empregam muita energia em desempenhar os processos e cumprir normas de maneira irrepreensível.

A Culpa, ansiedade e frustração constantes

O perfeccionista é alguém que não se sentiu aceito/amado por alguém que muito amou ou ama. Isso gera a necessidade de estar sempre em busca de uma constante aprovação.

Apesar dos pontos negativos apresentados acima, e sem dúvida preocupantes para a saúde mental de um indivíduo, o perfeccionismo está em alta, com estudos a apontar para um crescimento significativo desta propensão nas últimas três décadas.

Torna-se fundamental trabalhar estas questões que tanto limitam a vida de uma pessoa. E a Psicoterapia é uma excelente meio para essa melhoria

Joana Norton

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